Seção Folha da Bahia em 25/9/2007
Duas trajetórias sensíveisSemana passada, o Brasil perdeu dois ícones de sua cultura: Mário Barata e Ruth Laus. Ambos longevos e produzindo até os últimos instantes de suas vidas. Intelectuais com contribuições significativas para a formação da memória da história da arte brasileira. Conseqüentemente, figuras muito especiais mas, por exercerem funções específicas e restritas a um público intelectual, muitas vezes são pouco prestigiados pela mídia, reconhecimento oficial e do grande público. Os críticos de arte passam toda uma vida estudando, pesquisando, produzindo livros, ensaios, textos para catálogos, lançando artistas, acompanhando suas trajetórias, influenciando tendências, criando movimentos, registrando história, planejando exposições, salões e bienais, informando o público, buscando fazer um elo entre a arte e os artistas, ensinando em escolas e universidades, escrevendo em jornais e revistas, clarificando um produto sensível: a arte. Muitas vezes são encobertados pelo véu do esquecimento, quando sem eles não existiria história em qualquer país. Mário Barata e Ruth Laus não podem ser esquecidos. Ambos deixaram grandes serviços prestados ao país.
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Mário BarataNasceu em 1921, no Rio de Janeiro, e foi um dos homens mais cultos que o Brasil já produziu. Jornalista, crítico de arte, professor de História da Arte, estudou Museologia, Ciências Sociais, História e Direito em seu estado natal. Licenciou-se em Letras e História da Arte na Sorbonne, diplomando-se, ainda, em Ciências Políticas da Universidade de Paris. Foi catedrático, por concurso, de História da Arte, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Integrou o Conselho do Museu de Arte de São Paulo. Foi professor em diversas universidades no Brasil e no exterior. Membro do júri Internacional da IIª Bienal de Paris e dos júris nacionais da Bienal de São Paulo e Salão Nacional de Arte Moderna do Rio.Foi assessor para as artes na I Conferência Geral da Unesco, em 1945, em Paris. Em 1949, organizou no Rio e em São Paulo a Seção Brasileira da Association Internationali des Critiques d’Art. Participou de colóquios internacionais na Universidade de Harvard, em 1968. Proferia palestras em português, espanhol, francês e inglês com grande desenvoltura.Mário Barata teve intensa atividade jornalística. Lançou o Programa Crítica de Arte na Rádio Ministério da Educação e Cultura. Foi colaborador efetivo do Hand-book of Latin Americam Studies e da Biblioteca do Congresso, em Washington, nos Estados Unidos. Escreveu muitos livros sobre artes plásticas, destacando-se A escultura de origem negra no Brasil (1957) e Razões de ser e a importância da arte moderna (1958). Produziu centenas de textos sobre artistas brasileiros. Mario Barata nos deixa aos 86 anos, ainda ativo e brilhante, na mesma cidade onde nasceu.
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Ruth LausNasceu em Tijucas, Santa Catarina, em 1920, e faleceu em Porto Belo, no mesmo estado, semana passada. Era uma mulher de projetos, forte personalidade, bela, elegante, loquaz, trabalhou até poucas horas antes de ter um acidente vascular cerebral aos 87 anos. Em 1952, transferiu-se para o Rio de Janeiro e inicia seus estudos de Museologia (MEC), Composição e Análise Crítica (MAM), História da Arte e Estética (Instituto de Belas Artes) e História Comparativa da Música e Artes Visuais (Escola Nacional de Belas Artes).Em 1956, funda e dirige no Rio a Galeria Villa Rica, onde promove intenso movimento artístico-cultural, abrindo espaço para novos talentos que mais tarde se tornariam grandes nomes das artes plásticas como Antonio Maia, Vilma Pasqualine, Raimundo Oliveira, Edelweiss, Píndaro Castelo Branco, Maurício Salgueiro, Maria do Carmo Secco, Antonio Grosso, Iaponi Araújo e tantos outros.Ruth Laus iniciou, aos 14 anos, atividades jornalísticas colaborando com um semanário dominical em sua cidade Tijucas. Em 1957, estréia coluna de artes plásticas em O jornal, Rio de Janeiro, onde permaneceu por um bom tempo. Assinou colunas na revista Gam e Leitura. Produziu, dirigiu e apresentou o programa Studium na desaparecida TV Continental sobre arte e artistas.Viajou pelo Itamaraty, proferindo palestras sobre arte brasileira pela América Latina e Europa. Escreveu vários romances premiados. O mais importante, Viagem ao desencontro, teve apresentação elogiosa de Adonias Filho. Ruth Laus faleceu escrevendo um livro de memórias. Tinha deixado o Rio de Janeiro aos 80 anos, quando comentou: “Aqui no Rio está muito violento, prefiro morrer na praia de Porto Belo”. Aconteceu como ela quis.
(Publicado em
http://www.correiodabahia.com.br/folhadabahia/noticia.asp?codigo=137725)